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- Última atualização: 21 de Outubro, 2024
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Figura 1: Localização dos Países Desenvolvidos ou “do Norte” e dos Países Em Desenvolvimento ou “do Sul”.
Frequentemente, os PD são os mais ricos economicamente e os PED o mais pobres. Todavia, nem sempre estas designações estão corretas pois, apesar de existirem diferenças muito significativas, confundem-se muitas vezes os conceitos de crescimento económico e desenvolvimento humano. O crescimento económico[Conceito] Traduz a quantidade de bens e serviços produzidos por uma determinada sociedade num determinado período de tempo. é um fenómeno de natureza quantitativa que se refere à quantidade de riqueza material produzida por um país ou região (avaliado por exemplo pelo Produto Interno Bruto[Conceito] Valor de todos os bens e serviços produzidos pelos residentes (nacionais e estrangeiros) de um país ou região, num determinado período de tempo. O PIB per capita refere-se ao valor do PIB dividido pela população absoluta. (PIB) ou pelo Produto Nacional Bruto[Conceito] Valor de todos os bens e serviços produzidos pelos habitantes de uma determinada nacionalidade, num determinado período de tempo, mesmo quando essa produção é realizada no estrangeiro. O PNB per capita refere-se ao valor do PNB dividido pela população absoluta. (PNB)). O desenvolvimento humano[Conceito] Traduz o bem-estar e qualidade de vida de uma população. é um fenómeno de natureza qualitativa que resulta da qualidade de utilização/aplicação dessa riqueza na satisfação de necessidades básicas[Conceito] Necessidades indispensáveis à sobrevivência dos indivíduos, por exemplo saúde, alimentação, segurança ou habitação. de toda a população.
É importante salientar que é possível obter-se crescimento económico sem se conseguir alcançar desenvolvimento (por exemplo se a riqueza criada não for distribuída por todos equitativamente ou se essa mesma riqueza não for utilizada para a satisfação das necessidades da população), contudo não é possível alcançar desenvolvimento humano sem existir crescimento económico pois a criação de riqueza é essencial para atingir permanentemente melhorias da qualidade de vida[Conceito] Manifesta-se através da maior ou menor autonomia e capacidade do ser humano adquirir os bens e serviços que lhe são indispensáveis. Ou seja, refere-se às condições de vida e de bem-estar de uma população e resulta da interação de quatro dimensões: económica, sociocultural, ambiental e política. das populações na satisfação das suas necessidades.
O rendimento é essencial para alcançar um melhor nível de vida[Conceito] Grau de satisfação das necessidades da população, de acordo com a possibilidade de adquirir ou usufruir de bens e serviços. e um maior bem estar[Conceito] Medida resultante da satisfação das necessidades essenciais de uma população., pois o aumento de riqueza facilita o acesso à habitação, à saúde e a uma educação de qualidade, por exemplo. No entanto, quando analisamos indicadores económicos de forma isolada temos de ter em consideração que estes podem ser enganadores pois podem não exprimir a distribuição real da riqueza. Isto significa que a riqueza pode estar concentrada numa pequena parte da população e, sendo o PIB e o PNB per capita apresentados em valores médios, estes podem mascarar situações de desigualdade dentro dos países ou regiões (Figura 2).
Figura 2: Distribuição mundial do Produto Interno Bruto per capita, em 2022.
Avaliar (medir) o desenvolvimento de cada país é muito difícil pois é um conceito que recorre a muitas variáveis ou indicadores de diversas ordens (demográficos, sociais, culturais, económicos, …), que avaliam a satisfação das necessidades de uma população, nomeadamente:
Embora nas últimas décadas se tenham verificado melhorias nas condições de vida da população, as desigualdades entre ricos e pobres têm-se acentuado. Continuam a existir em todo o mundo milhões de pessoas pobres[Economia] Segundo a Organização das Nações Unidas, ainda que existam vários níveis de pobreza, uma pessoa é considerada em situação de pobreza extrema quando vive com menos de 2,15 dólares norte-americanos por dia. O limite definido para a pobreza extrema passou, em 2022, de 1,90 para 2,15 dólares norte-americanos por dia., excluídas, subnutridas e privadas de liberdade, isto é, sem condições mínimas para uma vida condigna, especialmente em África (Figura 3).
País | população total (2021) | % população pobre (<2,15$) | nº pobres (<2,15$) |
---|---|---|---|
Angola | 34503776 | 31.12 | 9588624 |
Burkina Faso | 22100690 | 30.54 | 6031172 |
Burundi | 12551215 | 65.13 | 6213875 |
Camarões | 27198632 | 25.66 | 5819600 |
República Centro Africana | 5457165 | 61.88 | 2644541 |
Chade | 17179744 | 30.88 | 4779978 |
República do Congo | 5835814 | 35.36 | 1553904 |
República Democrática do Congo | 95894120 | 69.69 | 48099495 |
Essuatíni | 1192273 | 36.08 | 401927 |
Etiópia | 120283020 | 27.01 | 27233255 |
Gana | 32833036 | 25.29 | 7204371 |
Guiné-Bissau | 2060730 | 21.66 | 405983 |
Haiti | 11447575 | 29.19 | 2992469 |
Quénia | 53005616 | 29.37 | 2992469 |
Lesoto | 2281464 | 32.40 | 14059525 |
Libéria | 5193422 | 27.62 | 1266768 |
Madagáscar | 28915652 | 80.73 | 18040456 |
Maláui | 19889742 | 70.06 | 13051413 |
Moçambique | 32077074 | 64.64 | 16991620 |
Níger | 25252722 | 50.63 | 11363597 |
Nigéria | 213401330 | 30.86 | 60453388 |
Papua-Nova Guiné | 9949438 | 39.68 | 2835283 |
Ruanda | 13461891 | 52.01 | 6068420 |
Serra Leoa | 8420642 | 26.06 | 1993784 |
Ilhas Salomão | 707855 | 26.56 | 147718 |
Somália | 17065588 | 70.73 | 10318362 |
África do Sul | 59392256 | 20.48 | 11173333 |
Sudão do Sul | 10748278 | 67.33 | 7293239 |
Tanzânia | 63588332 | 44.95 | 25312512 |
Togo | 8644829 | 28.07 | 2214458 |
Turquemenistão | 6341850 | 43.12 | 1902875 |
Uganda | 45853780 | 42.21 | 18685187 |
Usbequistão | 34081452 | 82.20 | 21015795 |
Zâmbia | 19473132 | 61.35 | 9742337 |
Zimbabué | 15993525 | 39.75 | 5822239 |
Figura 3: Países com maiores percentagens (≥ 20%) da população em situação de pobreza extrema, em 2021.
Avaliar (medir) o desenvolvimento de cada país é muito difícil pois é um conceito que recorre a muitas variáveis ou indicadores de diversas ordens (demográficos, sociais, culturais, económicos, …), que avaliam a satisfação das necessidades de uma população, nomeadamente:
– No acesso a água potável, a alimentação equilibrada e habitação condigna;
– Na garantia de serviços de saúde e de educação para toda a população;
– Na garantia de emprego e de salários justos;
– Na igualdade de oportunidades, independentemente da etnia, do género (sexo), da classe social, ou da sua religião;
– Na liberdade de expressão e no acesso a cultura e lazer.
Quadro 1: Exemplos de indicadores simples utilixados na avaliação do crescimento económico e do desenvolvimento humano.
Económicos | Demográficos | Sociais | Políticos | Ambientais |
PIB per capita | Tx. Mortalidade Infantil | Tx. Analfabetismo | Nº de mulheres com assento parlamentar | Emissões de CO² por habitante |
PNB per capita | Saldo Migratório | Nº de médicos por 10 mil habitantes | Nº de violações dos Direitos Humanos | Tx. Desflorestação |
Tx. desemprego | Esperança Média de Vida | Tx. de Abandono Escolar | Percentagem de Trabalho Infantil | Índice de eletricifação |
Repartição da população por setores de atividade | Tx. Bruta de Natalidade | Tx. de Escolarização Feminina | Nº de mulheres com cargos de gestão | Percentagem de recolha e tratamento de resíduos |
Demográficos | ||||
Tx. Mortalidade Infantil | ||||
Saldo Migratório | ||||
Esperança Média de Vida | ||||
Tx. Bruta de Natalidade | ||||
Sociais | ||||
Tx. Analfabetismo | ||||
Nº de médicos por 10 mil habitantes | ||||
Tx. de Abandono Escolar | ||||
Tx. de Escolarização Feminina | ||||
Políticos | ||||
Nº de mulheres com assento parlamentar | ||||
Nº de violações dos Direitos Humanos | ||||
Percentagem de Trabalho Infantil | ||||
Nº de mulheres com cargos de gestão | ||||
Ambientais | ||||
Emissões de CO² por habitante | ||||
Tx. Desflorestação | ||||
Índice de eletricifação | ||||
Percentagem de recolha e tratamento de resíduos |
Os contrastes demográficos, que refletem as características de uma população, revelam grandes diferenças entre os países. Nos PD, a população é envelhecida, registando-se um Crescimento natural[Demografia] Diferença entre a natalidade e a mortalidade. Este pode ser positivo, negativo ou nulo, consoante a natalidade seja superior, inferior ou igual à mortalidade, respetivamente. reduzido ou por vezes mesmo negativo (Figura 4), uma Esperança média de vida[Demografia] Número médio de anos que uma pessoa, à nascença, pode esperar viver. elevada e uma Taxa de mortalidade infantil[Demografia] Número de óbitos de crianças com menos de 1 ano de idade por 1000 nados-vivos nascidos num determinado território, num certo intervalo de tempo. reduzida.
Figura 4: Distribuição mundial da Taxa de crescimento natural, em 2022.
Nos PED a população é jovem, apresentando um Crescimento natural elevado, uma Esperança média de vida baixa e uma Taxa de mortalidade infantil elevada (Figura 5).
Figura 5: Distribuição mundial da Taxa de mortalidade infantil, em 2022.
O estudo da mortalidade através das causas de morte também permite estabelecer contrastes entre os diferentes países do mundo, de acordo com o seu grau de desenvolvimento. Nos PD, muitas doenças resultam de um estilo de vida sedentário, com uma alimentação desequilibrada e consumo de drogas, álcool e tabaco (Figura 6). Nos PED, as principais causas de morte resultam das deficientes condições de saúde, de higiene e de alimentação (Figura 7).
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Figura 6: Principais causas de morte nos Países Desenvolvidos em 2021.
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Figura 7: Principais causas de morte nos Países Em Desenvolvimento em 2021.
O acesso à educação, à saúde, à saúde reprodutiva (Figura 8), à segurança social e à cultura, bem como a igualdade de oportunidades, também variam de país para país e de região para região.
Método moderno de contraceção | Método tradicional de contraceção | Sem acesso a método contracetivo | |
---|---|---|---|
Portugal | 62.6 | 10.9 | 6.9 |
Europa | 60.7 | 8.9 | 8.7 |
Oceânia | 54.3 | 4.6 | 14.4 |
África Subsariana | 29.9 | 3.9 | 21.2 |
América do Norte | 68.2 | 8.5 | 5.4 |
América Latina e Caraíbas | 70.8 | 4.4 | 9.5 |
Ásia Central e Meridional | 54.8 | 8.7 | 10.5 |
Extremo Oriente e Sudeste Asiático | 74.0 | 3.7 | 6.1 |
Norte de África e Médio Oriente | 44.9 | 10.7 | 14.7 |
Mundo | 58.7 | 6.3 | 10.6 |
Figura 8: Prevalência de uso de método contracetivo em mulheres (15-49 anos) na sua procura por regiões, em 2022.
Nos Países Desenvolvidos:
– Na saúde, os avanços científicos e tecnológico, aliados a uma rede hospitalar densa e de qualidade, oferecem boas condições de saúde à população;
– Na educação, a Taxa de Alfabetização situa-se próximo dos 100%, o número de Anos de Escolaridade Esperados[Conceito] Número total de anos de escolaridade que uma criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões se mantiverem. tem aumentado, assim como a Média de Anos de Escolaridade[Conceito] Número médio de anos de educação recebidos durante a vida, por pessoas com 25 anos ou mais. ou o acesso ao Ensino Superior;
– Na cultura, a maior parte da população tem acesso a meios de comunicação e a eventos e infraestruturas culturais (museus, cinemas, bibliotecas, concertos).
Nos Países Em Desenvolvimento:
– Na saúde, a assistência médica é precária e os hospitais estão mal equipados em termos materiais (medicamentos, instrumentos médicos, camas) e humanos (médicos, enfermeiros) (Figura 9);
– Na educação, a Taxa de Alfabetização embora tenha aumentado, apresenta ainda valores baixos sobretudo entre as mulheres;
– Na cultura, o acesso a meios de comunicação ainda não é generalizado e o número de eventos e infraestruturas culturais é escasso.
Figura 9: Despesas com saúde per capita no mundo, em 2020.
Os vários PED apresentam diferentes ritmos de crescimento económico e de desenvolvimento. Quando se passa para uma análise mais detalhada a nível económico, social e cultural, facilmente se percebe que, dentro destes, também há diferentes tipologias (níveis) de desenvolvimento, pelo que facilmente se conseguem identificar três grupos com características distintas: os Novos Países Industrializados (NPI) os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (do inglês South Africa)) e os Países Menos Avançados (PMA) (Figura 10).
– Desenvolvimento dos transportes e comunicações;
– Proximidade de um país modelo – o Japão;
– Mão de obra abundante, barata e qualificada;
– Intervenção dos Estados no estabelecimento de barreiras alfandegárias e/ou investimentos na educação;
– Elevadas taxas de investimento (poupanças internas e/ou investimento estrangeiro);
– Industrias voltadas para as exportações.
– Economia em crescimento e situação política estável;
– Mão de obra em grande quantidade e em processo de qualificação;
– Níveis de produção e exportações em crescimento;
– Grandes reservas de recursos minerais;
– Diminuição (embora que lenta) das desigualdades sociais.
PMA: atualmente, há 46 países designados pelas Nações Unidas neste patamar (33 em África, 9 na Ásia, 3 no Pacífico e 1 nas Caraíbas). A inclusão dos países nesta categoria atende a três critérios: rendimento reduzido (inferior a 1222 dólares norte-americanos ($) per capita, por ano / aproximadamente 1137 euros (€)), capital humano/condições de vida débeis (ao nível da alimentação, saúde e da educação) e a vulnerabilidade (fragilidade) económica. Os PMA compreendem cerca de 1200 milhões de pessoas (16% da população mundial) e são responsáveis pela produção de menos de 2% da riqueza mundial e cerca de 1% do comércio mundial.
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Figura 10: A heterogeneidade dos Países Em Desenvolvimento.
G7: Grupo criado em 1975 que reúne os sete países mais industrializados, mais ricos e mais desenvolvidos economicamente do mundo (EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão). Em 1997 a Rússia passou a integrar este grupo (que se passou a designar G8) mas voltou a ser excluída em 2014, devido aos conflitos que mantém com a Ucrânia.
Bem-estar: através do aumento das liberdades das pessoas para que estas possam prosperar;
Capacitação: através da instrução das pessoas para que estas ajam e produzam resultados para o país/região;
Justiça: através da expansão da equidade, sustentação dos resultados ao longo do tempo e pelo respeito dos direitos humanos
IDH: este é um dos indicadores compostos mais utilizados para avaliar o grau de desenvolvimento humano de uma determinada região ou país. Este foi desenvolvido em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq e tem sido calculado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento[Conceito] Organismo da ONU que trabalha principalmente no combate à pobreza e na promoção do desenvolvimento humano.
(PNUD). O IDH mede três dimensões básicas do desenvolvimento humano: a longevidade (vida longa e saudável), a instrução (aquisição de conhecimentos) e o rendimento (que permite um padrão de vida digno). Os resultados variam entre 0 e 1 (valores próximos de 1 representam desenvolvimento humano muito elevado; valores próximos de 0 representam desenvolvimento humano baixo) (Figura 11).
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Figura 11: Componentes do Índice de Desenvolvimento Humano e suas classificações.
Houve grandes progressos nas últimas décadas, mas uma em cada três pessoas do mundo continua a viver em países com baixo nível de desenvolvimento humano. Como se pode verificar no gráfico seguinte (Figura 12), o IDH dos países a nível mundial tem vindo a aumentar progressivamente o que significa uma melhoria do nível de vida da população, mas convém não esquecer que este é um valor médio e, por isso, não reflete a desigualdade de desenvolvimento mundial.
Figura 12: Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano e seus componentes entre 1990 e 2022.
O valor do IDH tem vindo a aumentar a nível mundial, no entanto sentiu-se um abrandar devido à pandemia da Covid-19 que afetou grande parte da população mundial. A distribuição deste indicador apresenta contrastes assinaláveis. Os países com maior nível de desenvolvimento encontram-se sobretudo no hemisfério norte. Por outro lado, a África Subsariana destaca-se pelos valores mais baixos onde as necessidades básicas da população não estão satisfeitas (Figura 13).
Figura 13: Distribução do Índice de Desenvonvimento Humano no mundo, em 2022.
O IDH apresenta ainda limitações porque:
– Resulta do cálculo de apenas quatro indicadores simples;
– Não contempla aspetos importantes como a democracia, a segurança, os Direitos Humanos, ou a preservação ambiental;
– Não expressa as diferenças sociais como, por exemplo, as de género;
– Os indicadores sobre a educação não analisam a qualidade das aprendizagens;
– Os dados estatísticos utilizados no seu cálculo nem sempre estão atualizados ou são viáveis.
IDG: este indicador traduz a desigualdade entre mulheres e homens e tem três dimensões: a saúde reprodutiva, a aquisição de capacidades (capacitação) e o emprego (participação no mercado de trabalho), através da análise de cindo indicadores simples. Varia ente 0 (nenhuma desigualdade nas dimensões analisadas) e 1 (desigualdade total). Assim, quanto maiores forem as desigualdades maior será o valor do índice e, por essa razão, menor será o desenvolvimento do país/região) (Figura 14).
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Figura 14: Componentes do Índice de Desigualdade de Género.
A desigualdade entre géneros continua a revelar-se um dos principais obstáculos ao desenvolvimento humano, embora se tenham verificado progressos significativos desde 1990, e é particularmente evidente em África (Figura 15). Frequentemente as mulheres são vítimas de descriminação em áreas como a saúde, a educação, a representação política ou o mercado de trabalho, com consequências negativas no desenvolvimento das suas capacidades e opções de vida.
Figura 15: Distribução do Índice de Desigualdade de Género no mundo, em 2022.
Este indicador, todavia, também apresenta algumas lacunas significativas pois não contabiliza muitos trabalhos realizados pelas mulheres, como o trabalho doméstico, não avalia a violência de género, não tem em conta a posse de bens dentro de uma comunidade ou oculta a impossibilidade de tomada de decisões por parte das mulheres.
O IDG apresenta ainda limitações porque:
– As estatísticas podem não corresponder ao retrato real do país, por defeitos na obtenção e no tratamento de dados ou por provirem de fontes não credíveis;
– Os dados referentes a médias nacionais, podem ignorar os extremos e as desigualdades entre regiões de um país.
IPM: é um indicador que reflete a situação de pobreza vivida pela população de um determinado país/região, nas suas diversas dimensões: a saúde, a educação e o nível de vida, através da análise de dez indicadores simples. Varia, igualmente, entre 0 e 1. Quanto maior for o IPM, maior é a percentagem de população em situação de pobreza. Este indicador não é calculado para os países mais desenvolvidos por falta de relevância (Figura 16).
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Figura 16: Componentes do Índice de Pobreza Multidimensional.
A distribuição deste indicador é semelhante à de outros indicadores (Figura 17).
Figura 17: Distribução do Índice de Pobreza Multidimensional no mundo, em 2023.
O IPM apresenta também limitações porque:
– Os dados são referentes às privações acumuladas nos Países Em Desenvolvimento, pelo que podem ocultar níveis de pobreza em determinadas regiões dos países desenvolvidos;
– As estatísticas podem não corresponder ao retrato real do país, por defeitos na obtenção e no tratamento de dados ou por provirem de fontes não credíveis;
– Os dados referentes a médias nacionais, podem ignorar os extremos e as desigualdades entre regiões de um país.
Portugal, apesar de fazer parte dos países desenvolvidos, apresenta algumas debilidades à escala internacional. Todavia, o país tem feito progressos significativos ao longo das últimas décadas e, de acordo com dados de 2022, expostos no Relatório de Desenvolvimento Humano Breaking the gridlock em 2023-2024, Portugal tinha 16,4% de população em risco de pobreza ou de exclusão social, o que correspondia a um total de cerca de 1,7 milhões de pessoas.
Ainda assim, o valor de IDH em Portugal tem vindo a melhorar significativamente, passando de 0,701 em 1990 para 0,874 em 2022. Este valor coloca Portugal no grupo de países com desenvolvimento humano muito elevado. Os indicadores simples que compõem o IDH (Esperança Média de vida à nascença: 82,2 anos; Anos de Escolaridade Esperados: 16,8 anos; Média de Anos de Escolaridade: 9,6 anos; Rendimento Nacional Bruto per capita: 35 315$) mostram-nos que há ainda melhorias significativas que podem ser realizadas para que Portugal possa subir no ranking de desenvolvimento (39ª posição).
No IDG (0,076 ocupando a 21ª posição no ranking), Portugal apresenta também uma evolução positiva, no entanto persistem algumas desigualdades como a ocupação feminina dos cargos públicos ou as diferenças salariais (Taxa de Mortalidade Materna: 11,8/100 000 nascimentos; Taxa de Fertilidade na Adolescência: 7,1/1000 mulheres; Percentagem de assentos parlamentares: 37,0%; População com parte de ensino secundário: M-59,7% H-61,9%; Percentagem de população ativa M-54,7% H-63,1%).
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Referências
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