Mobilidade da população

Mobilidade da população
i

Os fluxos migratórios nacionais e internacionais

A mobilidade da população refere-se à deslocação humana entre áreas geográficas (cidades, países, regiões, continentes). Desde sempre que o Homem se movimenta no espaço procurando condições favoráveis à sua sobrevivência. Se inicialmente esta busca dependia, principalmente, de fatores naturais, atualmente as deslocações de população são essencialmente motivadas pelas desigualdades socioeconómicas entre as regiões de partida e as regiões de chegada.

Na atualidade, cada vez mais pessoas vivem num país diferente daquele em que nasceram, mas também cada vez mais pessoas mudam de localidade no seu país, quer seja por razões turísticas, de estudo, de negócios ou mesmo para trabalhar, como, por exemplo, a deslocação diária entre a residência e o local de trabalho.

Organização das Nações Unidas (ONU), estimou que em 2020 existiam cerca de 281 milhões de migrantes internacionais o que equivalia a 3,6% da população mundial deslocada do seu país de origem, continuando desta forma a tendência de aumento verificada nas últimas cinco décadas. O total estimado de pessoas a viver num país diferente do seu país de nascimento em 2020 era superior em 128 milhões comparativamente a 1990 e mais de três vezes o número estimado em 1970 (Figura 1).

Figura 1: Distribuição mundial do número total de migrantes internacionais, em 2020.

O número de migrantes internacionais aumentou em todas as regiões da ONU, mas este foi superior na Europa e na Ásia, com aproximadamente 87 e 86 milhões de migrantes respetivamente, correspondendo a cerca de 61% dos migrantes internacionais. Quando comparado com o total de população de cada região, este número foi superior na Oceânia e na América do Norte (22% e 16% de migrantes internacionais). No entanto, a Ásia registou o crescimento mais notável entre 2000 e 2020, com 74% (cerca de 37 milhões de pessoas). A Europa registou o segundo maior crescimento durante este período, com um aumento de 30 milhões de migrantes internacionais (Figura 2).

Migrantes internacionais por regiões da ONU 1990-2020

Figura 2: Número de migrantes internacionais por regiões das Nações Unidas, entre 1990 e 2020.

Tipos de migrações:

As características demográficas da As migrações adotam diferentes classificações de acordo com os espaços que envolvem, a duração dos movimentos, a vontade dos migrantes e a sua relação com a lei (Figura 3):

Tipos de migrações

Figura 3: Tipos de migrações.

Quando ao espaço:

– Externas ou internacionais:

As pessoas deslocam-se para fora do país de origem, apresentando duas formas: a emigração[Conceito] Corresponde ao movimento de saída de pessoas para residência fora do país. e a imigração[Conceito] Corresponde ao movimento de entrada de pessoas provenientes de outros países com o objetivo de residir dentro do país.. Se este movimento se efetuar entre países/regiões dentro do mesmo continente estamos perante uma migração intracontinental (intra = dentro); se o movimento se efetuar entre países/regiões de continentes diferentes estamos perante uma migração intercontinental (inter = entre) (Figura 4):

Exemplos de migrações intracontinenteias e intercontinentais
i

Figura 4: Exemplos de migrações intracontinenteias e intercontinentais.

– Internas ou nacionais:

As pessoas deslocam-se de uma região para outra mas dentro do mesmo país. Neste tipo de migrações são muito distintas as situações dos Países Desenvolvidos (PD) e dos Países Em Desenvolvimento (PED). Nos PD, após uma primeira fase em que se assistiu à fuga de pessoas do campo para a cidade, assiste-se, atualmente, a uma crescente corrente de pessoas que fogem da cidade para o campo – êxodo urbano[Conceito] Corresponde ao movimento migratório em que a população sai de uma área urbana dirigindo-se para uma área rural.. Estes movimentos são motivados pelo desenvolvimento dos transportes pois, por exemplo, permitem que as pessoas vivam no campo e continuem a trabalhar na cidade, pelo menor custo das habitações, pelo estilo de vida mais tranquilo no campo ou pelas melhores condições ambientais.

Nos PED assiste-se à fuga das pessoas do campo para a cidade – êxodo rural[Conceito] Corresponde ao movimento migratório em que a população sai de uma área rural dirigindo-se para uma área urbana. (Figura 5). Estes movimentos são motivados pelas diferenças salariais (geralmente os salários são superiores nas cidades), pelo excesso de mão de obra existente no campo (fruto do crescimento populacional) ou pelas melhores oportunidades sociais ou culturais existentes nas cidades.

Aos movimentos que são efetuados diariamente entre a residência/habitação e o local de trabalho/estudo, e vice-versa, dá-se o nome de movimentos pendulares[Conceito] Corresponde ao movimento diário que as pessoas efetuam, normalmente casa-trabalho e trabalho-casa. (Figura 6).

Êxodo rural
i

Figura 5: Abandono nas áreas rurais em detrimento das áreas urbanas.

Movimentos pendulares
i

Figura 6: Ida diária e regresso de alunos para a escola.

Quando à duração:

– Definitivas ou permanentes:

As pessoas deslocam-se para outro local durante um período de tempo superior a um ano (ou mesmo para sempre), com o objetivo de aí formar residência (Figura 7). As razões podem ser muito variadas, mas, regra geral, são motivadas por questões laborais ou escolares ou ainda pelas guerras e as más condições de vida em geral.

– Temporárias:

As pessoas permanecem na área de destino um curto período de tempo, inferior a um ano, tendo a intenção de regressar ao seu local de origem. As migrações temporárias podem ainda ser consideradas migrações sazonais, ou seja, próprias de uma estação do ano, quando estas se realizam em épocas específicas do ano (nomeadamente quando uma família se deslocam para áreas balneares/praias para aí passarem férias (motivação turística); ou quando as pessoas, por exemplo, se deslocam temporariamente para a apanha da fruta (motivação laboral) (Figura 8).

Chegada de emigrantes portugueses à Gare de Austerlitz
i

Figura 7: Chegada de emigrantes portugueses à Gare de Austerlitz em 1965. Paris, França.

Imigrantes na apanha da maçã em Marrocos
i

Figura 8: Imigrantes na apanha da maçã em Marrocos.

Quando à tomada de decisão:

– Voluntárias ou livres:

Movimentos associados ao fator económico (busca de melhores salários) ou à realização profissional, surge por vontade própria, por livre iniciativa da população (Figura 9).

– Forçadas:

Por razões de ordem religiosa ou política (por exemplo a perseguição de minorias étnicas), guerras ou catástrofes naturais (sismos, tsunamis, furacões, inundações), a população pode ser obrigada a deslocar-se para outras áreas (Figura 10).

Partida de emigrantes portugueses no Aeroporto Francisco Sá Carneiro
i

Figura 9: Partida de emigrantes portugueses no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Porto.

Fuga de refugiados Sírios em 2014
i

Figura 10: Fuga de refugiados Sírios em 2014. Turquia.

Quando à relação com a lei:

– Legais ou documentadas:

Ocorre quando o migrante tem autorização de entrada e/ou permanência no país/região de chegada.

– Ilegais, indocumentadas ou clandestinas:

Por vezes, pode ocorrer a chegada de migrantes a um país/região que não respeite as formalidades legais. Neste caso trata-se de uma migração clandestina ou ilegal, ou seja, o migrante não tem autorização de entrada e/ou permanência no país de chegada.

Causas das migrações:

As migrações são causadas por uma grande diversidade de fatores (Figura 11). Estes fatores originam movimentos populacionais das áreas repulsivas para as áreas atrativas. Na atualidade, os movimentos migratórios mais importantes têm origem nas regiões menos desenvolvidas, mais pobres e que apresentam um elevado crescimento demográfico e têm como destino as áreas mais atrativas tais como as regiões mais desenvolvidas, mais ricas, mais industrializadas e onde a pressão demográfica é menor.

Principais causas das migrações

Figura 11: Principais causas das migrações.

Causas naturais:

Estas migrações realizam-se devido à ocorrência de catástrofes naturais como os sismos, as erupções vulcânicas, as inundações, as secas, os tsunamis ou condições climáticas adversas (Figura 12).

Causas económicas:

Nas áreas de partida não há, muitas vezes, harmonia entre o crescimento demográfico e o aumento de recursos (como por exemplo, o aumento da produção agrícola para alimentar o crescente aumento da população ou o aumento do número de postos de trabalho) pelo que a população está associada a situações de pobreza, salários baixos, desemprego ou más condições de vida em geral. Assim, a solução passa por procurar melhores condições de vida numa outra área economicamente mais desenvolvida (Figura 13).

Destruição causada pelo sismo ocorrido na fronteira entre o Irão e o Iraque
i

Figura 12: Destruição causada pelo sismo ocorrido na fronteira entre o Irão e o Iraque a 12 de novembro de 2017.

Habitação precária na cidade de Addis Abada, Etiópia
i

Figura 13: Habitação precária na cidade de Addis Abada, Etiópia.

Causas socioculturais:

No âmbito destas migrações estão motivos socioculturais como por exemplo os artistas ou investigadores que procuram cidades importantes para desenvolverem e promoverem as suas pesquisas e/ou mostrarem as suas obras. Um outro exemplo são os estudantes que optam por estudar em Universidades de renome internacional como por exemplo Cambridge no Reino Unido, Sorbonne em França, Coimbra em Portugal ou Harvard nos EUA.

Causas bélicas:

Estas migrações provêm essencialmente dos PED atingidos pelos conflitos armados (guerras), lutas e/ou perseguições étnicas, tensões sociais graves ou instabilidade política onde não estão garantidos os Direitos Humanos.

Causas religiosas:

As perseguições religiosas são outro exemplo de motivações para a deslocação de um povo. A intolerância religiosa manifesta-se num conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a crenças religiosas diferentes. Em casos extremos esta intolerância dá origem a perseguições, originando a fuga forçada da população contribuindo para o aumento dos refugiados[Conceito] Pessoa que tem de sair do seu país por motivo de perseguição, guerra ou catástrofes naturais ou humanas..

As peregrinações a locais religiosos como por exemplo a Cova da Iria em Fátima, a São Tiago de Compostela em Espanha, a Lourdes em França, ao Vaticano (religião cristã), ou a Meca na Arábia Saudita (religião muçulmana) é outra das causas das migrações.

Consequências das migrações:

As migrações têm consequências importantes para a população. Estes efeitos dos movimentos migratórios são sentidos nas áreas de partida tanto a nível demográfico como socioeconómico (Quadro 1).

Quadro 1: Consequências das migrações nas áreas de partida dos migrantes.

Consequências demográficasConsequências económicasConsequências sociais
Diminuição da população absoluta e da pressão demográficaDiminuição da mão de obra dos diversos setores de atividadeEnriquecimento e intercâmbio cultural
Pode conduzir a um Saldo Migratório negativoAbandono dos campos agrícolas nas áreas ruraisAbandono das infraestruturas e serviços públicos
Diminuição da Taxa Bruta de Natalidade e de FecundidadeDiminuição do desempregoIntrodução de novas ideias, técnicas e hábitos
Diminuição da Taxa de Crescimento NaturalReceção de poupanças envidas pelos emigrantes (remessas)Diminuição dos encargos da Segurança Social
Aumento da mortalidadeAumento dos saláriosRetrocesso no desenvolvimento regional
Envelhecimento da populaçãoDiminuição do espírito empreendedor e produtividadeDiminuição da população urbana
Consequências económicas
Diminuição da mão de obra dos diversos setores de atividade
Abandono dos campos agrícolas nas áreas rurais
Diminuição do desemprego
Receção de poupanças envidas pelos emigrantes (remessas)
Aumento dos salários
Diminuição do espírito empreendedor e produtividade
Consequências sociais
Enriquecimento e intercâmbio cultural
Abandono das infraestruturas e serviços públicos
Introdução de novas ideias, técnicas e hábitos
Diminuição dos encargos da Segurança Social
Retrocesso no desenvolvimento regional
Diminuição da população urbana

Também nas áreas de chegada se verificam consequências a nível demográfico e socioeconómico (Quadro 2).

Quadro 2: Consequências das migrações nas áreas de chegada dos migrantes.

Consequências demográficasConsequências económicasConsequências sociais
Aumento da população absoluta e da pressão demográficaAumento da mão de obra dos diversos setores de atividadeEnriquecimento e intercâmbio cultural
Pode conduzir a um Saldo Migratório positivoFragmentação e perda de direitos dos trabalhadoresDificuldade de integração dos imigrantes
Aumento da Taxa Bruta de Natalidade e de FecundidadeDisponibilidade de mão de obra barataFalta de habitação e aumento dos bairros de lata
Aumento da Taxa de Crescimento NaturalEnvio de poupanças para o país de origem dos migrantesAumento dos encargos da Segurança Social
Diminuição da mortalidadeDiminuição dos saláriosSaturação das infraestruturas e serviços públicos
Rejuvenescimento da populaçãoAumento do espírito empreendedor e produtividadeAumento dos conflitos sociais, do racismo[Conceito] Corresponde à atitude ou comportamento de preconceito que defende a superioridade de um grupo sobre outro(s), baseada num conceito de raça ou etnia dentro de um território. Em alguns casos conduz a uma forte segregação social ou mesmo ao extermínio de uma minoria. e da xenofobia[Conceito] Corresponde à antipatia, fobia (medo) ou aversão aos estrangeiros, ao que é ou vem do estrangeiro.
Consequências económicas
Aumento da mão de obra dos diversos setores de atividade
Fragmentação e perda de direitos dos trabalhadores
Disponibilidade de mão de obra barata
Envio de poupanças para o país de origem dos migrantes
Diminuição dos salários
Aumento do espírito empreendedor e produtividade
Consequências sociais
Enriquecimento e intercâmbio cultural
Dificuldade de integração dos imigrantes
Falta de habitação e aumento dos bairros de lata
Aumento dos encargos da Segurança Social
Saturação das infraestruturas e serviços públicos
Aumento dos conflitos sociais, do racismo[Conceito] Corresponde à atitude ou comportamento de preconceito que defende a superioridade de um grupo sobre outro(s), baseada num conceito de raça ou etnia dentro de um território. Em alguns casos conduz a uma forte segregação social ou mesmo ao extermínio de uma minoria. e da xenofobia[Conceito] Corresponde à antipatia, fobia (medo) ou aversão aos estrangeiros, ao que é ou vem do estrangeiro.

Grandes ciclos migratórios internacionais:

As migrações são um fenómeno que remonta aos primeiros períodos da Humanidade, no entanto, as suas manifestações e consequências têm mudado ao longo do tempo e à medida que o mundo se tornou mais globalizado. Os fluxos migratórios[Conceito] Corresponde à deslocação da população, em número significativo, dentro de um território ou para fora deste, devido a diferentes fatores em contextos históricos distintos. têm diferentes características relacionadas com as áreas de partida e de chegada, que foram alterando com o tempo, mas todas elas têm contribuído para o povoamento do Mundo com a redução da população total em certas regiões e o aumento do povoamento de outras.

Neste contexto, é possível identificar quatro grandes ciclos/fases migratórios/as (três deles nos últimos dois séculos), sendo que um deles pode ser subdividido em dois momentos com características totalmente diferentes.

1ª fase – Entre o século XV até meados do século XIX (expansão europeia):

Os objetivos políticos e económicos, relacionados com a exploração de recursos naturais e a expansão do território, conduziram a migrações intercontinentais da população europeia. O maior período teve início no século XVI com as colonizações portuguesa e espanhola do Novo Mundo. A América do Norte foi ocupada, principalmente, por colonos britânicos e franceses e a América do Sul e Central por colonos portugueses e espanhóis.

Um outro fluxo muito importante foi a saída forçada de escravos africanos para as Américas com o intuito de trabalharem nas diversas colónias.

⇒ Áreas de partida: sobretudo continente europeu e africano

⇒ Áreas de chegada: sobretudo continente americano

2ª fase – Desde meados do século XIX até meados do século XX (migrações transoceânicas e o período das grandes guerras):

 

Elevados fluxos migratórios desde meados do século XIX até sensivelmente à Primeira Grande Guerra (1914-1918): O aumento muito elevado da população do continente europeu (explosão demográfica motivada pela melhoria nos cuidados de saúde e de higiene), a precariedade (más condições de vida) da população (motivadas pela falta de terras aráveis, de emprego e/ou baixos salários devido ao desenvolvimento da indústria) e o desejo de novas oportunidades de enriquecimento motivaram a saída de milhões de europeus sobretudo para a América e para a Oceânia. Esta migração foi facilitada pelo desenvolvimento dos meios de transporte, nomeadamente o desenvolvimento de navios transatlânticos (Figura 14).

⇒ Áreas de partida: sobretudo continente europeu

⇒ Áreas de chegada: sobretudo continente americano

Baixos fluxos migratórios entre o início da Primeira Grande Guerra (1914-1918) e o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945): As dificuldades de navegação (ou o medo de viajar pois os navios eram, frequentemente, afundados) levaram à redução dos fluxos migratórios. Também a Grande Depressão (crise económica de 1929-1930 que conduziu ao colapso do capitalismo e do liberalismo económico e, consequentemente, à falência de muitos bancos e empresas) levou a que muitos países recetores de migrantes restringissem a imigração, ou seja, proibissem a entrada de imigrantes. A guerras deste período também não foram favoráveis  à deslocação de pessoas (com a exceção dos militares recrutados) (Figura 15).

RMS Titanic
i

Figura 14: RMS Titanic - Um de três transatlânticos de passageiros britânico, da Classe Olympic, construído e operado pela White Star Line.

A Invasão da Normandia pelos Aliados
i

Figura 15: A invasão da Normandia pelos Aliados a 6 de junho de 1944, episódio conhecido como Dia D, envolveu mais de 130 mil soldados.

3ª fase – Desde meados do século XX até sensivelmente 1970 (depois de 1945 com o fim da Segunda Guerra Mundial):

Nesta fase as principais correntes migratórias foram do sul em direção ao centro do continente europeu (sobretudo França e Alemanha), pois ocorrera uma elevada mortalidade da sua população no período anterior, o que provocara a falta de mão de obra (a maioria dos que morreram eram jovens e adultos) para a sua reconstrução.

Simultaneamente, decorreu o processo de descolonização em África e na Ásia, que foi acompanhado pelo regresso de milhares de europeus das antigas colónias aos seus países de origem, devido à instabilidade política e social (os portugueses que regressaram a Portugal ficaram conhecidos como retornados[História] Que ou quem, tendo emigrado para os territórios ultramarinos portugueses ou sendo descendente de emigrantes nesses territórios, veio para Portugal, especialmente após a Revolução de 25 de Abril de 1974. ).

⇒ Áreas de partida: sobretudo países do sul do continente europeu e de países do norte do continente africano

⇒ Áreas de chegada: sobretudo países da europa central e ocidental como a França ou a Alemanha

4ª fase – Diminuição dos fluxos migratórios e o surgimento de novas tendências (desde 1970 até ao final da década de 1990):

Sensivelmente entre 1970 e os finais de 1980 as migrações tiveram uma redução muito acentuada devido às diversas crises económicas motivadas pela subida muito acentuada dos preços do petróleo de 1973 e 1980 (Choques Petrolíferos[Economia; História] No início dos anos 70, a procura internacional de petróleo começou a exceder a produção. Entre 1973 e 1974, a OPEP quadruplicou os preços do crude para cerca de 12$ o barril. Em 1979 e 1980, os membros da organização votam uma nova subida de preços e o barril passa a valer 30$ norte americanos. Esta política dos países produtores viria a criar enormes problemas de inflação nas nações industrializadas. Governos e bancos aumentaram as taxas de juro, agravando o problema de pagamento de dívidas.), que conduziram ao elevado desemprego. Por essa razão muitos países recetores de migrantes restringiram a imigração.

A partir de 1990 surgiram novas tendências migratórias, marcadas por uma grande diversidade de áreas de partida e áreas de chegada. A Europa continuou a ser um dos destinos mais procurados devido ao desenvolvimento dos países da Europa ocidental e central e também devido às condições climáticas e históricas dos países sul da Europa que atraem turistas. Com o crescente desenvolvimento económico e industrial dos países do sul e leste da Ásia, estas regiões tornaram-se também grandes focos atrativos de migrantes.

Nos finais do século XX, a proveniência das principais correntes migratórias foram sobretudo, dos PED de África e da Ásia motivadas pelas desigualdades entre os países mais desenvolvidos e os países menos desenvolvidos, pelo desemprego ou pelas guerras. São também importantes os fluxos migratórios da América Central para a América do Norte.

⇒ Áreas de partida: sobretudo países do continente africano e asiático

⇒ Áreas de chegada: sobretudo a Europa central, Europa ocidental e Europa do sul; alguns países do sudeste asiático

Características dos fluxos migratórios atuais:

A população migrante tem crescido, quer em termos absolutos, quer em termos relativos. Todavia, são grandes as diferenças entre regiões. De uma forma geral, a população migra das regiões menos desenvolvidas, com carências económicas e/ou inseguras, para as regiões mais desenvolvidas, onde existem maiores oportunidades (Figura 16)

Principais países emissores e recetores de migrantes internacionais 2020

Figura 16: Pricipais países emissores (esq.) e recetores (dir.) de migrantes internacionais, em 2020.

Em síntese, as migrações da atualidade refletem o facto de:

– A maioria das pessoas a migrar internacionalmente fazem-no por razões relacionadas com o trabalho, com a família e com os estudos;

– Os migrantes continuam a procurar as regiões com maiores oportunidades de trabalho e maior dinamismo económico;

– A Europa e a Ásia são as regiões que têm atraído mais imigrantes;

– As migrações internacionais têm perdido importância em relação às migrações internas;

– Os deslocamentos causados por conflitos, por violência e por desastres ambientais são, na atualidade, muito elevados, provocando o aumento de refugiados, com destaque para mulheres e crianças, em todo o mundo;

– Os deslocados internos têm aumentado devido à violação de direitos humanos, violência ou conflitos armados;

– O aumento do número de migrantes com elevada qualificação técnica e científica (fuga de cérebros, do inglês brain drain);

– Haver atualmente Países Desenvolvidos que são, ao mesmo tempo, países de emigração e imigração.

Fatores atrativos e repulsivos que influenciam as migrações:

As migrações são condicionadas por um conjunto muito variado de fatores repulsivos que estimulam a população a deixar o seu país (por exemplo as secas prolongadas, o emprego instável, o desemprego ou os baixos salários, as más perspectivas de vida e de realização pessoal ou a repressão da liberdade individual por razões políticas, religiosas, étnicas, de género ou orientação sexual).

Por outro lado, alguns fatores atrativos favorecem a convergência de população para os países mais desenvolvidos (por exemplo as atrativas condições de vida, os elevados salários, as boas perspectivas de realização pessoal e profissional, o respeito pelas liberdades individuais, a gratuitidade no acesso à saúde e ao ensino ou a boa assistência social) (Figura 17).

Fatores atrativos e repulsivos que influenciam as migrações
i

Figura 17: Fatores atrativos e repulsivos que influenciam as migrações.

Retrato síntese das migrações em Portugal:

A evolução da população portuguesa reflete a influência do saldo migratório[Conceito] Corresponde à diferença entre a imigração e a emigração, num dado período de tempo, normalmente um ano., quer através de grandes correntes emigratórias, que contribuem para a diminuição da população, quer através de fluxos imigratórios, que fizeram com que o decréscimo populacional não fosse tão elevado, pelo menos na atualidade.

De uma forma geral, o saldo migratório negativo verifica-se em alturas de crise económica e o positivo em momentos de melhoria, resultando numa atratividade para países menos desenvolvidos (Figura 18).

Saldos populacionais anuais: saldo total, saldo natural e saldo migratório em Portugal 1960-2022

Figura 18: Evolução das migrações em Portugal, entre 1960 e 2022.

Relativamente à emigração portuguesa destacam-se três fases bastante distintas:

1ª fase – Finais do século XIX até sensivelmente meados do século XX (1960):

A falta de oportunidades e a pobreza que se fazia sentir levaram a que milhões de portugueses emigrassem com destino ao continente americano. Estas migrações eram de caracter definitivo e tiveram como destinos principais o Brasil, os EUA, a Venezuela e a Argentina. A vontade de migrar para o Brasil deveu-se, sobretudo, à abolição da escravatura, que conduziu à falta de mão de obra.

Também a erupção do vulcão dos Capelinhos, na Ilha do Faial, nos Açores (1957-1958), levou a que milhares de residentes no arquipélago se deslocassem para esse continente.

2ª fase – Desde 1960 até 1973:

 
 
 
 
 
 

A partir dos anos 60 do século XX verificou-se um crescimento explosivo da emigração portuguesa. A Europa ocidental passa a ser o destino mais escolhido pelos portugueses para melhorarem as suas vidas. Várias economias, que apesar de afetadas diretamente pela Segunda Guerra Mundial, apresentavam condições laborais superiores às oferecidas por Portugal e necessitavam de mão de obra não especializada para a sua reconstrução. Os principais destinos foram a França, a República Federal Alemã, a Suíça, o Luxemburgo ou o Reino Unido.

Contudo, os açorianos (pessoas naturais do Arquipélago dos Açores) continuaram, neste período, a preferir o continente norte americano, nomeadamente os EUA e o Canadá. Os madeirenses (pessoas naturais do Arquipélago da Madeira) continuaram a preferir o continente sul americano, nomeadamente o Brasil e a Venezuela.

3ª fase – Desde 1973 até a atualidade:

A partir de 1973 registou-se uma diminuição da emigração portuguesa motivada sobretudo pelas crises petrolíferas, razão pela qual muitos países recetores de migrantes restringiram a imigração com o objetivo de reduzir o desemprego da sua população. Neste período alguns países como a França ou a Alemanha pagavam mesmo indeminizações para que as pessoas regressassem aos seus países de origem.

Também a revolução de 25 de abril de 1974, que conduziu a democratização da sociedade portuguesa e ao abandono da ditadura de Salazar, o fim da Guerra Colonial Portuguesa[História; Política] Corresponde ao período de confrontos entre as Forças Armadas Portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de libertação das antigas colónias entre 1961 e 1974. A Revolução dos Cravos em Portugal (25 de Abril de 1974), que põe fim à ditadura do Estado Novo, permitiu que se pusesse fim a uma guerra que durava há treze anos e dar início ao processo de descolonização. (os homens já não sentiam necessidade de abandonar o país pois já não seriam obrigados a participar na guerra) ou a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986, que conduziu à abertura da economia portuguesa ao exterior e à melhoria das condições de vida da população, conduziram à diminuição da emigração portuguesa.

Sobretudo a partir de meados da década de 1990, a emigração portuguesa voltou a aumentar, mantendo-se significativa até à atualidade, devido às crises económicas ou à falta de oportunidades profissionais, tendo destinos muito diversificados dentro do continente europeu como o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Bélgica, mas também países de outros continentes tal como por exemplo Angola ou Moçambique no continente africano, o Brasil no continente americano, ou a China no continente asiático. Este aumento deveu-se sobretudo ao fim dos condicionalismos administrativos que restringiam a saída das pessoas, como, por exemplo, a obrigatoriedade da existência de passaporte para viajar para alguns países, motivado pela assinatura do Acordo de Schengen[Política] Corresponde a uma convenção entre países europeus, assinada em 1992 em Schengen, no Luxemburgo, sobre uma política de abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas entre os países signatários, incluindo a maioria dos países da UE e alguns países extra UE. Este acordo permite a livre circulação de pessoas dentro dos países signatários, sem a necessidade de apresentação de passaporte nas fronteiras., que estabelecera a livre circulação de pessoas (e bens) nos países signatários do acordo e devido ao desenvolvimento dos transportes e comunicações.

Estas diferentes fases apresentam ainda alterações no que se refere à qualificação da população emigrante portuguesa. No passado, a maioria dos que saíam do país não apresentavam qualificações profissionais (a maioria não tinha mais do que o 4º ano de escolaridade), eram jovens e muitos eram provenientes das áreas rurais devido à economia assente na agricultura, com baixos salários, elevado desemprego e baixos níveis de vida.

Na atualidade, devido ao desemprego e falta de oportunidades, muitos portugueses, em busca de um emprego estável e bem renumerado, continuam a optar pela emigração. Na maioria, são pessoas jovens do sexo masculino (apesar de ter aumentado muito o número de emigrantes do sexo feminino) com um elevado nível de qualificações profissionais e superiores (Figura 19).

Características do emigrante português em 1965 e 2012
i

Figura 19: Características do emigrante português em 1965 e 2012.

 

A partir de meados dos anos 70 do século XX, a entrada de pessoas estrangeiras no nosso país, ou seja imigração, começou a ganhar expressão a par do regresso de muitos portugueses.

Assim, com as mudanças políticas implementadas em Portugal, nomeadamente a revolução de 25 de abril de 1974 (Portugal passou de uma ditadura para uma democracia) e a independência das colónias, muitos portugueses regressaram a Portugal (nomeadamente os que se encontravam nas ex-colónias, e aqueles que por motivos políticos se encontravam impossibilitados de entrar no país).

Paralelamente a estes movimentos, Portugal foi abrindo, progressivamente, as suas fronteiras aos imigrantes, sobretudo dos PALOP[Política] (PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) Corresponde à designação dada a um grupo de cooperação regional que reúne os países africanos que têm a língua portuguesa como oficial. Também conhecidos como África Lusófona, o grupo é composto pelos cinco membros originais — Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe — e a Guiné Equatorial, que aderiu ao grupo posteriormente e adotou a língua portuguesa como oficial..

Nos finais do século XX e início do século XXI, o incremento da imigração foi pautada pela conjuntura económica favorável materializada em grandes projetos como a construção da barragem do Alqueva (1998-2002), a Exposição Mundial (Expo-98), a Ponte Vasco da Gama (1995-1998) ou o Campeonato Europeu de Futebol (Euro-2004). Neste contexto, Portugal tornou-se no início do século um país recetor de imigrantes da Europa de Leste (por exemplo a Ucrânia, a Moldávia ou a Roménia), da América (por exemplo o Brasil) e da Ásia (por exemplo a China, o Nepal ou a Índia). Nas últimas últimas duas décadas, muitos franceses, ingleses ou alemães reformados têm escolhido Portugal para aqui se instalarem (Figura 20).

Figura 20: Distribuição da população estrangeira em Portugal por municípios, em 2022.